Cuidado ao perguntar a uma criança: “o que você quer ser quando crescer?”. A pergunta que persegue os pequenos, hoje pode ter respostas de assustar um adulto. No lugar de médico, engenheiro, ator, a resposta possivelmente será youtuber – termo relacionado às pessoas que fazem vídeos para a rede social YouTube, e com isso faturam com pagamentos feitos por audiência ou anúncios.
Esse é um grande exemplo da revolução pela qual o mundo passa. De tempos em tempos, a sociedade observa grandes revoluções, que reformulam os modelos de trabalho. Um exemplo foi a industrial, que tirou muitas pessoas do campo para trabalhar nas recém-criadas fábricas.
Agora, o mundo atravessa mais uma revolução, a tecnológica, e essa poderá custar o fim de um grande número de empregos. O desenvolvimento e a informatização com ampliação da Inteligência Artificial vai possibilitar que máquinas façam muitas das ações que hoje demandam de mão de obra humana.
As primeiras categorias que devem sofrer grandes reduções são as de trabalhos com poucas barreiras de entrada, como motoristas de ônibus, garçons, telefonistas e manicures. O mesmo nível de risco é apresentado para cargos da indústria, como o de operadores de máquinas e equipamentos.
O atendimento aos clientes também deve sofrer com a diminuição de cargos, como é o caso dos agentes de turismo e dos vendedores de seguros. Até mesmo profissões que atualmente exigem graduação podem sofrer com a evolução, como as de contador, advogado, corretor e cartógrafo.
O fator Inteligência Artificial
Inteligência Artificial é a expressão da moda, que vem para mudar totalmente nossa realidade; se os robôs hoje já fazem muitos trabalhos, isso se multiplicará. A tecnologia de hoje já permite que robôs realizem metade das tarefas do trabalho de um humano, segundo o McKinsey Global Institute. Ou seja, se no seu trabalho você precisa fazer dez atividades diferentes todos os dias, as máquinas já são capazes de fazer cinco delas por você.
Outra pesquisa, que abordou 32 dos 37 países-membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), tem uma informação parecida: quase um em cada dois empregos provavelmente será afetado pela automação.
Atualmente já existem robôs que fazem ações que antes se imaginava impossível. Um grande exemplo dessa evolução se mostra nos bancos, que há anos já transferiu parte de seu atendimento para os caixas eletrônicos e agora evoluem ainda mais com a criação de sistemas de inteligência artificial que suplantam grande parte do atendimento.
Contudo, o impacto da inteligência artificial ainda não será tão grande em empregos que demandam maior capacidade de análise e de criação. Por mais que as máquinas estejam em intensa evolução, ainda se tem um longo caminho a ser percorrido antes que assumam capacidades de criações mais complexas.
Mas, mesmo nesses casos, haverá uma diminuição de demanda. Veja alguns exemplos:
Advogados – continuará por muito tempo a necessidade de alguém para fazer a defesa, mas as complexas pesquisas não serão mais necessariamente feitas por humanos, diminuindo consideravelmente a demanda. Atualmente existem softwares que determinam qual melhor linha de defesa para determinado tema, com maior probabilidade de ganho, reduzindo drasticamente o tempo de pesquisas e montagem das ações ou defesas judiciais;
Engenheiros – hoje já existem tecnologias que simplificam muitos dos complexos cálculos. Ainda há a dependência dos humanos, mas cada vez mais se simplificam os processos. O Autocad já possibilita a realização de todos os casos de complexos;
Administradores – os sistemas integrados de dados das empresas farão que muitos dos trabalhos braçais, como os das áreas financeiras e de controladoria, sejam substituídos por sistemas. Mas o papel do tomador de decisões continua;
Jornalistas – nesta profissão que está precisando se reinventar, com a mudança das comunicações e com a crise dos grandes veículos, o posicionamento agora deverá ser muito mais próximo às corporações. Hoje as assessorias de comunicação têm demanda muito maior de gestão de informações corporativas do que os veículos de comunicação;
Médicos – a tecnologia simplificará muitos procedimentos e funções, como de anestesistas, que devem deixar de existir. Também deverão ocorrer mudanças nas formas de atendimento, que poderão ocorrer online;
Empresários precisam repensar
Como ocorre nas diversas áreas de atuação, as próprias empresas precisam se reinventar. Os gestores muitas vezes não acreditam que a mudança afetará seus negócios, mas quando isso acontece, por vezes é tarde demais.
“No passado vimos muitos negócios que findaram, como as locadoras de vídeos e depois DVDs e empresas de revelação de filmes. Temos exemplos também de grandes empresas e marcas, como a Olivetti. Se diante de mudanças as empresas não se reinventam, o fim é próximo”, alerta o diretor executivo da Bazz Estratégia de Recursos Humanos, Celso Bazzola.
O momento é de grande atenção para as empresas, que devem avaliar constantemente os números de seus negócios para avaliar os fluxos existentes. Também é preciso olhar o mercado externo e interno, pois muitas vezes um negócio fadado à queda pode se reerguer.
Ele cita como exemplo recente a IBM, uma empresa centenária que, com crescimento de outras grandes gigantes de tecnologia e com a perda de mercado de computadores de mesa, se reinventou, tendo como a inovação como um dos fatores primordiais para ainda estar forte no mercado. A IBM continua forte hoje em setores de armazenamento de dados, em unidades físicas ou na nuvem, supercomputadores, patentes de tecnologia e pesquisa de novas tecnologias.
Outro exemplo é a Confirp Contabilidade, que sempre foi muito sólida na área de contabilidade, mais observa a necessidade de se reinventar. “Temos observado a movimentação do mercado contábil e é certo que os processos estão mudando e o governo obtêm as informações de forma tecnológica. Portanto, para nossa sobrevivência, estamos nos reinventado”, explica Richard Domingos, diretor executivo da Confirp.
Ele se refere ao Confirp Digital (veja reportagem nessa revista). Esse novo modelo passa a oferecer aos clientes outras facilidades, como uma simplificação na contratação de benefícios e outras tecnologias que facilitam a vida das empresas. Com isso, um risco de esgotamento se mostra um mundo de oportunidades.
Empregos com triste fim
O BusinessInsider listou as 20 posições que correm mais risco de serem eliminadas por robôs. São elas:
- Operadores de telemarketing – Essa não é novidade para ninguém. Robôs não só são capazes de realizar o trabalho 24h por dia como podem manter a energia e motivação, não importa como os clientes respondam.
- Contadores (para declarar impostos) – O processo de preparação de declarações fiscais conta, cada vez mais, com a tecnologia para tornar a tarefa mais fácil.
- Relojoeiros – Máquinas já são capazes de realizar a montagem precisa, ajustar ou calibrar os relógios.
- Analistas de crédito – Um algoritmo já é capaz de analisar se oferecer crédito a alguém é seguro ou não. Bancos do mundo todo já estão utilizando softwares para realizar a tarefa.
- Caixas de banco – Os terminais de autoatendimento, ATMs, podem oferecer a maior parte dos serviços de um caixa, muitas vezes em menos tempo.
- Árbitros – Os juízes podem estar com os dias contados. Substituindo-os por máquinas, a chance de erro em uma decisão diminui bastante.
- Compradores – É muito simples para máquinas realizarem encomendas e encontrarem fornecedores e materiais. Além disso, a internet pode ajudar a reduzir o número de trabalhadores na área, já que praticamente realiza todo o trabalho.
- Operadores de embalagem – Usar robôs para preparar produtos industriais, para armazenamento de consumo ou remessa já está se tornando uma realidade. Grandes empresas como a Amazon já substituíram operadores humanos por máquinas.
- Operadores de tratores e outras máquinas de aplainamento – Outra área que já está sendo tomada pelas máquinas, já que a execução por robôs evita acidentes.
- Analistas de crédito – Automatizar o processo de análise de dados de crédito e demonstrações financeiras pode resultar em um menor grau de risco.
- Motoristas – Em breve os motoristas não serão mais necessários. Carros autônomos, como o do Google, não precisam de um motorista e, na teoria, podem executar o serviço até melhor do que os humanos.
- Modelos – Além de assumir o trabalho de modelos, os robôs estão trabalhando em outras áreas surpreendentes, como atuação, artes e engenharia.
- Secretários – A tecnologia já permite que os próprios chefes agendem reuniões e sejam lembrados quando for a hora. Os sistemas conseguem também guardar recados e atender ligações.
- Escriturários – De acordo com o Wall Street Journal, grandes empresas como a Verizon já estão utilizando um software que automatiza todas as tarefas de contabilidade e documentação corporativa.
- Caixas de supermercados – As máquinas que permitem que o próprio usuário finalize compras e realize tarefas como pagar o estacionamento continuam crescendo em todo o mundo e a tendência é de que o numero aumente ainda mais.
- Moagem e polimento de materiais – Os robôs são cada vez mais capazes de triturar ou polir uma variedade de objetos de metal como madeira, pedra, barro, plástico e vidro.
- Cozinheiros – Um robô chamado Foxbot é capaz de cortar macarrão e já trabalha na Dazzling Noodles, uma cadeia de restaurantes do norte da China.
- Joalheiros – Ao que tudo indica, confeccionar e consertar joias é uma tarefa fácil para as máquinas. Especialistas apontam que entre 2015 e 2022 o número de empregos da área deve diminuir 10%.
- Trabalhadores de serviços postais – Além de os robôs serem capazes de realizar as tarefas de cadastro e envio de remessas, o correio tradicional está se tornando cada vez mais obsoleto.
- Montadores na indústria de elétricos e eletrônicos – Os robôs estão se tornando essenciais na indústria eletrônica por sua precisão e exatidão. Algumas máquinas já estão trabalhando na função e o resultado, segundo a Robotics Industries Association nos Estados Unidos, é satisfatório.
Profissões que emergem
A pergunta que fica é: quais as profissões que prometem marcar forte presença no mercado? Existem profissões que se destacam e que devem ter uma boa procura nos próximos anos. Para Celso Bazzola, para definir os setores que se destacarão são necessárias algumas análises.
“O que nos leva a definir algumas carreiras promissoras para o próximo ano são as tendências de mercado e a economia do país. As necessidades e mudanças de comportamento também influenciam nessa análise”, explica.
Aí vale um alerta: não é porque estas profissões estão valorizadas que se deve correr atrás das mesmas. Existe neste caminho mais um ponto muito importante, que é a vocação. Geralmente por influências externas, em muitos casos os profissionais optam pelo dinheiro e o resultado pode ser desastroso.
Vejamos as áreas de destaque, segundo estudo feito por Celso Bazzola:
- Agroecólogo – profissional que combina conhecimentos de sustentabilidade com agroindústria.
- Gerontólogo – atua não só com a saúde física de pessoas idosas, mas também com sua felicidade e bem-estar.
- Analista de BI (Business Inteligent) – tem capacidade de interpretar dados e entender os comportamentos de consumo.
- Técnico em drones – especializado em pilotar esse tipo de aeronave não tripulada para serviços na parte de segurança, fotos e filmagens, análise de campo e solo, etc.
- Desenvolvedor mobile – profissional que desenvolve softwares para dispositivos móveis
- Cientista de dados – função decisiva para o futuro de muitas empresas, pois o profissional utiliza seus conhecimentos estatísticos e matemáticos para resolver problemas de negócios e identificar tendências capazes de alavancar os resultados da companhia.
- Analista de mídias digitais – ajuda a buscar, por meio do engajamento, o bom relacionamento nas redes sociais digitais.
- Biotecnologista – pode trabalhar com o melhoramento da produção agrícola, com o controle de qualidade e desenvolvimento de remédios.
- Designer de games – cria e desenvolve jogos eletrônicos para diversas plataformas, como de treinamento ou entretenimento.
- Conselheiro – seu papel é sugerir melhorias para a governança corporativa, com base em seus conhecimentos técnicos de controladoria, finanças e contabilidade e vivência de mercado.
- Facilitador de TI – esse profissional explora tendências digitais e cria uma plataforma self-service automatizada para que usuários construam seus próprios ambientes colaborativos, incluindo assistentes virtuais.
- Gestor de desenvolvimento de negócios de inteligência artificial – define, desenvolve e implementa programas eficazes para acelerar vendas e negócios de inteligência artificial (IA).
- Analista de cibercidade – garante a segurança e funcionalidade da cidade ao assegurar o fluxo saudável de dados (ambientais, populacionais, etc.) pelo sistema.
- Técnico de saúde assistida por inteligência artificial – examina, diagnostica e administra tratamentos apropriados para pacientes, auxiliado por tecnologia e por médicos acessíveis de maneira remota.
- Coach de bem-estar financeiro – oferece sessões de coaching individuais para clientes que queiram compreender e monitorar suas atividades financeiras.
- Guia de loja virtual – entrega atendimento ao cliente de maneira instantânea e virtual. O trabalho é remoto e utiliza realidade aumentada.
- Construtor de jornadas de realidade aumentada – profissional que projeta, escreve, cria, calibra, gamifica, constrói e personaliza jornadas de realidade aumentada.
- Controlador de estradas – especialista que monitora, regula, planeja e manipula espaços aéreos e estradas, programando plataformas automatizadas de IA usadas para gerenciar espaços de carros e drones autônomos.
Como lidar com esse mundo
O diretor da Bazz conta que, contudo, “não devemos alterar os planos profissionais para outras carreiras apenas por tendências. Considero que mais importante é avaliar suas habilidades e paixão, assim, com certeza, o sucesso será inevitável”. Ele acrescenta que várias profissões tiveram seus momentos de destaque e depois entraram em baixa, já outras estão presentes nas empresas em destaque até hoje. Também é importante se manter atualizado, já que muitas empresas sofreram mudanças graças os avanços das técnicas, tecnologia, estratégia, competitividade, entre outras variáveis.
Para sobreviver nesse mundo, em entrevista recente, Paulo Feldmann, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, explicou que as pessoas terão que se acostumar mudanças de profissão. “Há casos em que a carreira é totalmente eliminada. As empresas de pagers, por exemplo, tiveram de demitir milhares de funcionários. O mesmo ocorreu com datilógrafos e telefonistas. É difícil aproveitar o conhecimento que a pessoa já tem para fazer outras coisas”, explicou.
Ele alertou que as universidades precisam parar de especializar as pessoas. “Os profissionais têm de ser preparados para assumir qualquer profissão, uma vez que o mercado muda com tanta rapidez que mal existe tempo de se readequar às novas exigências. Acredito que o profissional do futuro terá de se formar em conhecimentos gerais, uma vez que as profissões surgem e deixam de existir rapidamente”, explicou.
Assim, para o futuro, aquela história que a pessoa exercerá no mínimo cinco profissões no decorrer da vida passa a ser uma grande verdade, pois, cada vez mais será valorizado o profissional que tenha capacidade de se adaptar às surpresas que esse admirável mundo novo oferece.