A Secretaria da Micro e Pequena Empresa (SMPE) e o Sebrae/SP entregaram, na segunda semana de dezembro, um estudo para o deputado federal Guilherme Campos (PSD-SP) que, se transformado em projeto de lei, prevê a elevação do teto do enquadramento do Microempreendedor Individual (MEI) para R$ 120 mil por ano. A busca pela ampliação do limite de receita bruta anual foi precedida em apenas alguns dias por uma resolução do Comitê Gestor do Simples Nacional (CSNG) que ampliou o número de atividades que poderão aderir a esse regime diferenciado de tributação já a partir de janeiro de 2015.
O MEI é a pessoa que trabalha por conta própria e que se legaliza como microempresário. Entre as principais vantagens da adesão estão a possibilidade de registro no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), a emissão de notas fiscais, obrigatória para negócios realizados com outras empresas, além da abertura de conta da empresa e a tomada de empréstimos.
O MEI é isento dos tributos federais (IR, PIS, Cofins, IPI e CSLL) e paga apenas um valor fixo mensal de 5% sobre o salário mínimo destinado à Previdência Social, além de recolher R$ 1 (ICMS) ou R$ 5 (ISS), dependendo do setor de atuação. “A finalidade do MEI é formalizar os microempresários que exercem uma atividade, mas que não recolhem impostos, garantindo alguns benefícios”, diz Welinton Mota, diretor tributário da Confirp Consultoria Contábil.
Criado pela Lei Complementar 128/2008 e em vigor há cinco anos, o regime do microempreendedor individual nasceu com a tarefa de desburocratizar o processo de abertura de empresas, acompanhada de uma carga tributária que não onerasse a operação desses empreendedores, estimulando a formalização dos seus negócios.
O número crescente de adesões fez com que, em 2012, o faturamento anual que o microempreendedor poderia atingir passasse de R$ 36 mil para R$ 60 mil. Agora, a previsão é que seja dobrado. “Entramos em um outro round, que é a ampliação do teto”, diz o secretário de Racionalização e Simplificação da SMPE, José Constantino de Bastos.
O estudo apresentado pela secretaria e pelo Sebrae aos deputados da Frente Parlamentar Mista da Micro e Pequena Empresa faz parte de um compromisso assumido pela SMPE na esteira da sanção da Lei Complementar 147/2014 – que aprimorou a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, em agosto passado – de revisão do modelo de tributação do Simples Nacional e do MEI. “Existe uma barreira para o empreendedor que está nesses regimes e é obrigado a sair em função do aumento da receita”, diz Constantino.
No caso do MEI, o objetivo é criar uma espécie de “faixa de transição” de receita bruta anual entre R$ 60 mil e R$ 120 mil, estimulando o crescimento da empresa e a permanência nesse regime. “O aumento é necessário para incentivar ainda mais essa figura jurídica tanto como porta de entrada para a formalidade como para o incentivo ao empreendedorismo”, afirma o secretário. Se aprovado o novo teto, a contribuição das empresas nessa nova faixa seria de 11% sobre o salário mínimo – 5% para as que se mantiverem dentro dos R$ 60 mil anuais -, mantidos o R$ 1 para o ICMS ou R$ 5 para o ISS.
Segundo dados da Receita Federal, o número de empreendedores optantes do MEI recebe um milhão de novas adesões ao ano. Em 2009, quando foi criado, foram 44,1 mil optantes, número que passou para 760 mil (2010), 1,63 milhão (2011), 2,62 milhões (2012) e 3,60 milhões (2013). Este ano, até o fim de novembro, as adesões já ultrapassavam 4,53 milhões de pessoas. O MEI já responde por mais de 60% das empresas formalizadas anualmente – incluindo microempresas e negócios de pequeno porte. Estima-se que ainda exista um “estoque” de aproximadamente seis milhões de trabalhadores por conta própria, informais, que podem se cadastrar no MEI.
“Quem também poderá engrossar essas estatísticas são as pessoas que entram no mercado de trabalho. Com a economia crescendo em um ritmo mais lento e a menor geração de empregos, não será possível absorver toda essa nova mão de obra. A atividade empreendedora acaba sendo a melhor alternativa para elas”, diz Júlio Durante, consultor do Sebrae/SP.
Um estímulo para manter o ritmo de crescimento foi dado, no início de dezembro, com a Resolução CGSN 117, que amplia o número de atividades que podem aderir ao MEI a partir de janeiro de 2015. Entre as novas atividades aprovadas estão as de guarda-costas, piscineiros, diaristas, transportadores intermunicipais de passageiros e vigilantes, entre outras.
Fonte – Por Felipe Datt | Para o Valor, de São Paulo