A Igreja católica, como a maioria das religiões, não tem uma organização financeira comum. Mesmo perante o Estado brasileiro, cada paróquia, escola ou ordem religiosa é quem responde particularmente por suas questões contábeis. Essa dispersão dificulta detalhar e dimensionar o patrimônio católico no Brasil, onde há 123,3 milhões de adeptos, o equivalente a 64,6% da população.
Os seminários católicos, com poucas exceções, não ensinam economia, finanças ou administração. A falta de formação nesse sentido vale igualmente para os pastores.
“As igrejas nunca vão gerir o dinheiro como o mercado. Até porque, em tese, não existe a intenção de tirar o máximo de proveito dos bens”, avalia o diretor da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), padre Valeriano Santos Costa.
Neste ano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pretende realizar um levantamento inédito das obras e dos serviços sociais, o que poderá contribuir para uma visão mais ampla e precisa dos bens da Igreja, incluindo milhares de imóveis e terrenos espalhados pelo país — a maior parte deles envolve concessões antigas do Estado, algo menos comum nos dias de hoje.
Na capital federal, a sede da CNBB está instalada em um terreno bem ao lado da Nunciatura Apostólica, em área nobre da cidade destinada a embaixadas. O arcebispo, dom Sérgio da Rocha, vive na residência oficial da arquidiocese, localizada na seleta Península dos Ministros, no Lago Sul, onde um lote de 800 metros quadrados está estimado atualmente em pelo menos R$ 4,5 milhões.
Também no Lago Sul, um seminário que forma padres para diversas dioceses brasileiras ocupa uma imensa área cedida pelo governo no ano da inauguração de Brasília e, desde então, cobiçada por empreiteiras. De lá para cá, foram várias as propostas para lotear o terreno, estimado por representantes do mercado imobiliário em algo em torno de R$ 100 milhões. “Não podemos vender, mas, mesmo se pudéssemos, não o faríamos. A paz e a tranquilidade que encontramos aqui para formar os sacerdotes não têm preço”, comenta o ecônomo do seminário, padre Rodrigo Noronha. (DA)
123,3 milhões
Número de adeptos do catolicismo no Brasil
Fim das vantagens
Projetos engavetados no Congresso Nacional propõem o fim das vantagens concedidas às igrejas, algo muito difícil de ocorrer na opinião do diretor executivo da Confirp Consultoria Contábil, Richard Domingos. “Historicamente, não há interesse da União em acabar com a imunidade ou mesmo fiscalizar essas instituições”, diz. O Estado só se intromete no assunto, acrescenta o especialista, quando surgem denúncias de crimes, sendo o mais comum deles o de lavagem de dinheiro.
Fonte – Correio Braziliense – Brasília/DF – ECONOMIA – 26/01/2014 – 04:00:00
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