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Inteligência artificial: o futuro é hoje

A imagem de robôs inteligentes que tomam decisões próprias povoou a imaginação da população mundial, principalmente depois da década de 70, quando o cinema começou a tratar o tema de forma mais intensa.

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Contudo, na maioria dos casos as projeções não eram muito positivas – basta lembrar de filmes como 2001: uma odisseia no espaço, O exterminador do futuro e Matrix.

A perspectiva passada por essas obras era de que, com a criação de uma consciência própria, as máquinas estabeleceriam a humanidade como um grande inimigo a ser combatido. A evolução chegou e a Inteligência Artificial (IA ou AI, do termo em inglês Artificial Intelligence) já é uma realidade em muitas situações. E os resultados vêm se mostrando contrários aos apontados pelos filmes, há a prestação de um auxílio muito grande às pessoas. Claro que o caminho da revolução tecnológica ainda é longo, mas a ideia de que máquinas sejam inimigas se mostra, a cada dia que passa, mera invenção das obras de ficção.

Segundo Henrique Albuquerque, Gerente de Inteligência Artificial do Departamento de Pesquisa e Inovação do Banco Bradesco, pode-se dizer que a indústria do entretenimento fez um desserviço para essa evolução. “A ideia da tecnologia como inimiga é um grande equívoco, hoje se observa que os avanços estão proporcionando grandes benefícios para as pessoas, como melhorias nas áreas da medicina, serviços e produção”, explica.

Ele conta que o próprio banco já vem utilizando essa inteligência, batizada de BIA, sigla para Bradesco Inteligência Artificial. A solução permite um atendimento imediato, com respostas sempre atualizadas e dadas em linguagem natural, por meio da inteligência artificial.

A estratégia da instituição financeira é de começar a entender a tecnologia de inteligência artificial internamente e, em um segundo momento, com os resultados positivos, aprimorar e ampliar essa facilidade para o público externo. Neste aplicativo, os clientes poderão acessar a solução por meio de um chatbot para tirar dúvidas e fazer transações, como consultas, transferências, pagamentos e recargas de celular.

Esse é apenas um exemplo da utilização da inteligência artificial. Marco Lagoa, Diretor Técnico da Witec Solutions, explica o famoso Watson. “Quando falamos em Inteligência Artificial no mundo da tecnologia, é impossível não lembrar do Watson. Esse software criado pela IBM oferece diversos APIs para que os desenvolvedores consigam criar programas, sistemas e aplicações cognitivas. Essas aplicações contam com a capacidade do software de entender certas emoções, interpretar imagens e textos, ouvir sons, identificá-los e responder de maneira automática. Hoje, a IBM disponibiliza os APIs Watson por meio de sua plataforma de nuvem, a Bluemix. O Watson representa muito na tecnologia e é graças a ele que vemos, cada vez mais, novos aplicativos e sistemas de inteligência artificial e poder cognitivo”.

Outra forma de AI muito conhecida é a Siri, uma assistente virtual comandada por voz, de propriedade da Apple. O recurso foi lançado no iPhone 4S e se tornou um sucesso por auxiliar os consumidores a realizar os mais variados tipos de tarefas, apenas “conversando” com o telefone.

Mas, afinal, como definir a AI? Marco Lagoa explica: “O conceito de inteligência artificial é bem simples: um sistema em uma máquina capaz de reconhecer elementos de palavras, imagens e falas. De início, essa tecnologia era limitada, embora houvesse muita fantasia com robôs humanizados e tudo o que a ficção científica criou. Contudo, é notável que com o passar dos anos, a AI vem evoluindo ao ponto de ter capacidades comparadas, realmente, com as humanas. Isso é muito significativo para a sociedade, já que esse tipo de inteligência das máquinas pode facilitar muitos trabalhos e, também, agir de maneira significativa no tão relevante campo da saúde”.

Outras inteligências

Os exemplos de AI apresentados acima são apenas a “ponta do iceberg”. Bento Ribeiro, sócio-fundador da Tevec, empresa que utiliza inteligência artificial na previsão de comportamentos na demanda por produtos, lista exemplos do uso da ferramenta no cotidiano.

·         Previsão de demanda de produtos

A inteligência artificial determina a quantidade e o mix ideal de reposição para cada produto em cada loja ou elo da cadeia logística. Com isso, o consumidor sempre encontra o produto no ponto de venda e a indústria e o varejo reduzem perdas com estoques acima da demanda.

·         Carros inteligentes

A Inteligência Artificial é a base da Internet das Coisas (do inglês Internet of Things ou IoT). Com o sistema inteligente, os acessórios para carros são capazes de identificar os padrões de comportamento e os interesses dos donos. Assim, o veículo ajusta sozinho a temperatura, as posições da direção e dos espelhos e sintoniza a rádio preferida, entre outras ações. Ao invés de avisar sobre a necessidade de trocar o óleo, o automóvel consulta diretamente a agenda do motorista, liga para o posto preferido e programa a troca. Se for um carro sem motorista, ele pode até ir sozinho. A IBM perguntou aos altos executivos das empresas quando eles entendem que tais tecnologias estarão em funcionamento e 74% deles respondeu que em 2025, daqui a sete anos.

·         Reconhecimento facial

Recurso que permite encontrar um rosto em meio à multidão, ferramenta já em uso por agências de combate ao terrorismo.

·         Data security (segurança de dados na internet)

A tecnologia ajuda a detectar 325 mil novos vírus (malware) todos os dias. Assim, o internauta navega, faz compras e paga suas contas com segurança.

·         Financial Trading (mercado financeiro)

Há sistemas quem preveem os movimentos do mercado de ações. Um gigantesco volume de dados é analisado de forma tão veloz que a capacidade humana dos analistas não consegue acompanhar.

·         Saúde
A inteligência artificial é utilizada para entender os fatores de risco da diabetes; já estão em operação algoritmos capazes de prever o risco de hospitalização em pacientes com a doença. A tecnologia também ajuda na prevenção do câncer de mama. Com a análise de mamografias foi possível detectar em 52% das mulheres a alta probabilidade de contrair a doença com um ano de antecedência do surgimento dos primeiros sintomas, segundo estudo do Computer Assisted Diagnosis (CAD).

·         Personalização do marketing

A tecnologia aplicada permite que produto pesquisado em uma loja online apareça “magicamente” em várias páginas na próxima navegação do internauta.

·         Prevenção de fraude

A inteligência artificial está cada vez mais precisa na detecção de potenciais fraudes em diversos campos de negócio. O PayPal, por exemplo, usa a ferramenta para prevenir a lavagem de dinheiro em seu sistema de pagamento.

·         Recomendações
Há ferramentas que analisam o comportamento de compra e os interesses do internauta, o comparando com milhares de outros consumidores para identificar qual será a sua próxima compra ou o próximo filme que desejará assistir. Na sequência, surpreende o usuário com um convite antecipado ou mais informações sobre o produto desejado.

·         Google
O site de busca é o case mais famoso do uso de inteligência artificial. Todos os dias, milhões de pessoas fazem diversas consultas.

·         Natural Language Processing (NLP)

Os algoritmos de linguagem natural ajudam os sistemas de call centers na identificação de rotas rápidas para fornecer a informação que o cliente precisa. É o final dos menus intermináveis até chegar ao objetivo do consumidor.

Entenda melhor o tema

Quais os caminhos da Inteligência Artificial e quais seus impactos em nossas vidas? O Diretor Técnico da Witec Solutions, Marco Lagoa, detalhou alguns pontos:

 

Tendência

A grande tendência é que a AI seja cada vez mais acessível. Os robôs e mecanismos de inteligência cognitiva saem da esfera apenas científica, dentro de um laboratório, e passam a fazer parte do dia a dia das pessoas. O Google, por exemplo, vem incorporando a Inteligência Artificial em vários elementos, como o corretor ortográfico, assistentes virtuais cada vez mais assertivos e até aplicativos que conhecem sua pose ao tirar uma foto. Além disso, a AI também invade o mundo corporativo: o próprio Google está desenvolvendo assistentes de call center com inteligência autônoma, o que pode reduzir muitos gastos. Vale lembrar da utilização da Alexa para integrar salas de conferência da Polycom e a Cortana da Microsoft, com o uso no Hololens, Skype e outros aplicativos.

Sim, há riscos

Historicamente o cinema associa a AI às cenas de laboratórios, com robôs criados para o mal e o uso da Inteligência Artificial para o desenvolvimento de armas. Este último aspecto, porém, já ultrapassou a ficção. Atualmente, há uma discussão para o não uso de AI na tecnologia de armamentos. Inclusive, pesquisadores e empresas como a SpaceX já assinaram um acordo em que se comprometem a não usar a AI para o desenvolvimento de robôs que seriam verdadeiras armas e teriam inteligência para matar pessoas. Contudo, como já mencionado, a AI tem muito mais aplicações boas do que ruins em nossa sociedade.

Fim dos empregos

O avanço tecnológico, principalmente quando falamos de AI, pode, sim, extinguir alguns empregos. Vejamos o exemplo do Google, que vem desenvolvendo um atendimento automatizado para call centers com base na Inteligência Artificial, que pode facilmente substituir um atendente humano que estaria neste posto. Contudo, ao mesmo tempo em que alguns serviços podem ser instintos, outros podem ser criados. Com o maior investimento no setor da tecnologia, cada vez mais se precisará de pesquisadores e especialistas em AI, entre outras profissões que podem surgir no meio desse processo.

 

Internet das Coisas

Este é um conceito cada vez mais comum em palestras, workshops e aulas que envolvam a tecnologia. O próprio termo sugere que boa parte das coisas que usamos em nosso dia a dia está, de alguma maneira, conectada à rede e gerando informação – que é o principal recurso consumido pela AI. A ideia é que as coisas conversem entre, estando conectadas digitalmente. Um exemplo bem simples, e que muita gente conhece, é o SmartWatch. Um relógio digital que “conversa” com seu telefone e consegue extrair informações das suas redes sociais, além de dados vitais de saúde. É uma conexão que facilita o dia a dia, já que para atender a uma chamada ou ver notificações nas redes sociais o usuário precisa apenas do relógio. Essa é uma facilidade que tende a ganhar mercado.

Alerta: internet dependência

Aos poucos, as pessoas se tornam cada vez mais dependentes da internet. Ela não é imprescindível para a sobrevivência humana, mas oferece um leque de oportunidades e facilidades tão grande que, muitas vezes, é difícil imaginar a vida sem ela. Contudo, é preciso estar alerta para não se tornar refém. Afinal, é muito bom bater papo com os amigos em grupos no WhatsApp, mas é melhor ainda se encontrar e conversar pessoalmente. É positivo estimular o desenvolvimento de uma criança com aplicativos e desenhos animados, mas é ainda melhor fazer com que ela também brinque ao ar livre. Logo, é preciso dosar o uso para aproveitar a era digital de forma positiva.

Segurança sem risco ou em risco

A tecnologia deve sempre estar associada à segurança. Há aplicativos que indicam ao usuário restaurantes, lojas e mercados, entre outros estabelecimentos, de acordo com o seu trajeto, o que faz com que muitos sintam que sua privacidade está sendo invadida. Contudo, a consolidação da tecnologia traz novos e eficientes métodos para proteger dados pessoais. É como uma via de mão dupla. De qualquer forma, a discussão ética tende a nortear os debates sobre AI.

Quais são os rumos para o futuro?

Há como fazer previsões para um futuro em que o desenvolvimento da tecnologia cada vez mais se acelera? O caminho parece difícil, mas a Singularity University – organização criada pela NASA e pelo Google com a missão de educar, inspirar e capacitar líderes para aplicar tecnologias exponenciais para enfrentar os grandes desafios da humanidade – se propôs a fazer algumas previsões.

Segundo eles, em vinte anos atingiremos o ponto que chamamos de “Singularidade”, em que a inteligência artificial superará a capacidade humana em diversos aspectos. Veja o que projetam:

2018

·         Incorporação de emoções em interfaces de conversa. Será socialmente aceitável gritar com Alexa ou Siri, por exemplo, e elas responderão algo como: “Por favor, não grite assim. Está ferindo meus sentimentos!”

·         Drones e equipamentos de realidade virtual muito mais acessíveis e comuns no dia a dia. Robôs inteligentes já automatizam diversas tarefas manuais e começam a ser extinguidos diversos empregos.

2020

·         Internet 5G entregará velocidades de conexão de 10 a 100 gigabytes para dispositivos móveis ao redor do mundo.

·         Diagnósticos baseados em AI e recomendações terapêuticas serão usados na maioria dos centros médicos americanos.

·         Carros voadores entrarão em operação em algumas cidades.

2022

·         Impressoras 3D conseguirão imprimir roupas e materiais para a montagem de casas e prédios.

·         As pessoas terão liberação para conduzir carros autônomos nos EUA e em alguns outros países.

·         Robôs domésticos se tornarão normais em alguns lares de renda alta e média, capazes de fazer leitura labial, reconhecimento facial e de gestos com clareza.

·         Robôs conversarão naturalmente e atuarão como recepcionistas em escritórios e assistentes de lojas.

2024

·         As primeiras missões privadas para Marte serão lançadas.

·         O número de vôos de drones diários chegará a 10 milhões (100 vezes mais do que hoje).

·         Drones já entregarão pacotes rotineiramente nos telhados dos prédios e das casas e robôs de superfície pegarão esses pacotes e os encaminharão de porta em porta.

·         Os primeiros contratos de energia solar e eólica de “um centavo por KwH” serão fechados.

·         As vendas de veículos elétricos irão compor metade das vendas totais de automóveis.

·         Lidar com a inteligência artificial aumentada será considerado um requisito para a maioria dos empregos.

2026

·         A posse de carros sairá de moda e os veículos autônomos dominarão as estradas.

·         100 mil pessoas transitarão em Los Angeles, Tóquio, São Paulo e Londres em veículos de decolagem e aterrissagem vertical.

·         A agricultura vertical se tornará vital para a produção de comida na maioria das megacidades.

·         8 bilhões de pessoas se conectarão à internet em velocidades de 500 MBPs. Tablets nas regiões mais pobres do mundo se tornarão disponíveis para uso em troca de dados e direitos de ecommerce.

·         A realidade virtual se tornará onipresente. Constantemente, os pais reclamarão que seus filhos estão em “outro universo”. A procura pelo turismo começará a cair conforme as pessoas passem a ter excelentes experiências por meio da realidade virtual.

2028

·         Energia solar e eólica representarão quase 100% do consumo mundial.

·         A demanda mundial por petróleo chegará ao seu auge e talvez comece a decrescer.

·         Robôs terão relacionamentos reais com as pessoas, dando suporte aos idosos, cuidando da higiene pessoal e preparação de alimentos. Robôs para relações íntimas passarão a ser populares.

2030

·         A inteligência passará no teste de Turing, o que significa que a máquina pode alcançar (e superar) a inteligência humana em todas as áreas.

·         Os mais ricos terão acesso ao que se traduz como “velocidade de escape da longevidade” – o momento em que um ano de avanço tecnológico consegue aumentar a expectativa de vida das pessoas em mais de um ano.

·         Agências de inteligência confirmarão que mensagens armazenadas recebidas entre 1990 e 2029 serão desencriptadas com sucesso.

·         Emissões de carbono cairão mais rápido a cada ano. Será assinado um plano global de emissão zero de carbono até 2050.

2032

·         A maioria dos profissionais humanos terá alguma modificação cortiçal, como coprocessadores e comunicação web em tempo real.

·         Robôs avatares se tornarão populares, permitindo que qualquer um possa teleportar sua consciência para locais remotos em todo mundo.

·         Robôs serão comuns em todos os locais de trabalho, eliminando todo trabalho manual e interações repetitivas (guias turísticos, recepcionistas, motoristas, pilotos, serventes e construtores).

2034

·         Empresas como Kernel farão conexões significativas entre o córtex humano e a nuvem.

·         Muitos problemas mundiais serão solucionados (ex.: câncer e pobreza).

·         A AI conseguirá solucionar problemas científicos complexos que requerem alto nível de realidade aumentada para entendimento.

2036

·         Tratamentos para longevidade se tornarão disponíveis rotineiramente e cobrirão políticas de seguro de vida, extendendo a vida das pessoas comuns entre 30 e 40 anos.

·         Cidades inteligentes escalarão globalmente; serão hiper eficientes em utilizar energia solar, produzir e distribuir alimentos, oferecendo segurança e transporte eficiente.

2038

·         O dia a dia já não será mais reconhecível – a realidade virtual e inteligência artificial alavancarão todas as partes da vida humana no mundo inteiro.

Se tais previsões irão acontecer ou não, só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: dificilmente os caminhos serão muito diferentes dos traçados, considerando a velocidade do desenvolvimento do mundo em que vivemos.

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